Até algum tempo atrás, se acreditava que Segundo e Terceiro setores eram coisas totalmente separadas e que instituições que ajudavam pessoas não podiam gerar lucro. O conceito, totalmente ultrapassado, cedeu lugar para o que chamamos, hoje, de negócios sociais, o setor 2,5. Você sabe o que é?
Quanto mais lucro você gera, maior pode ser o seu impacto social. A frase resume bem o que o chamado Setor 2,5 preconiza: empresas e empresários que querem, ao mesmo tempo, transformar o mundo ao redor e construir um legado positivo para a sociedade, sem abrir mão do lucro que faz a economia girar. Foi esse conceito que abriu caminho para os negócios sociais, um universo abrangente, que impulsiona o ambiente empresarial e, de quebra, ajuda a melhorar a qualidade de vida de quem mais precisa.
Os primeiros negócios com este perfil no Brasil surgiram entre 2006 e 2007. O foco era direcionar algum tipo de lucro para projetos que melhorassem a vida das pessoas ou que gerassem algum tipo de trabalho e renda. Hoje, mais de 1000 negócios sociais fazem parte do mercado brasileiro, ainda sem regulamentação oficial para este tipo de empresa ou pesquisas mais consistentes sobre o setor.
Data de 2013 o relatório mais contundente sobre esse mercado, realizado pelo Sistema de Inteligência Setorial do Sebrae, que já mostrava um modelo de negócios crescente. Segundo o órgão, 20% a 30% do total de empresas que procuram o Sebrae têm perfil social.
E por falar em perfil, quem são esses empreendedores? Até 2010, ainda de acordo com o SEBRAE, a maioria de quem se aventurava no ainda tímido setor 2.5 era formada por jovens em início de carreira. O mercado amadureceu e, com ele, quem investe também: hoje, boa parte dos empreendedores são pessoas que já atuaram em grandes empresas e querem gerar mais proposito e impacto social sua experiência profissional.
Na cola desse perfil, muitas incubadoras e aceleradoras nasceram e são as principais incentivadoras e fomentadoras do mercado, aproximando quem tem boas ideias e quem quer investir em iniciativas sociais
O SENAC – Serviço Nacional do Comercio, elenca os seguintes pontos como princípios dos negócios sociais:
- Empresas criadas para resolver um problema comum a muitas pessoas ou a um grupo específico;
- Atuação voltada para melhorar a qualidade de vida, proporcionando necessidades básicas, direitos e oportunidades;
- Financeiramente autossustentáveis;
- Foco tanto na viabilidade econômica quanto no impacto social;
- Devem ser replicáveis e escaláveis.
No Segundo Setor, o objetivo é o lucro. No Terceiro Setor, a inclusão social e a ajuda a causas sociais. O Setor 2,5 chegou para transformar uma realidade que carecia de gestão e suporte. O novo panorama exigiu um modelo especial e eficiente de gestão, inclusive. Unir a expertise de empresas lucrativas (Segundo Setor) e gerar, com elas, impacto social (finalidade do Terceiro Setor). As chamadas empresas sociais estão, realmente, ajudando a transformar o mundo com essa ponte.
Ainda temos muito a aprender sobre o assunto aqui no Brasil. EUA e na Europa já tem canais de investimento focados no Setor 2,5, cujas perspectivas unem o retorno econômico com o resultado sociais. Grandes empresas já apostam nessa junção de fatores mensuráveis para melhorar não apenas seu impacto social, mas sua visibilidade no mercado.
Negócios sociais ainda estão engatinhando, mas já constroem pontes. Por estarem no meio do caminho, precisaram de um tempo de adaptação, embora é possível perceber um crescimento contínuo focado na solução da falta de recursos do terceiro setor, por exemplo. Foi exatamente para resolver a falta de grana que envolve o universo das ONG’s que mais projetos de economia social nascem a cada dia.
É o caso do Polen, que desenvolve tecnologias para facilitar doações de empresas a ONGs; de quebra, as marcas engajam e cativam seus consumidores; e do Arredondar, que ajuda pontos de venda possibilitando serem canal para micro doações de seus consumidores. Havaianas, Gol, Pão de Açúcar e Burguer King estão entre as empresas parceiras da iniciativa.
Quando o GiftAid foi criado, o objetivo também era unir duas pontas com dores bem distintas, mas intercruzadas: de um lado, pessoas e empresas desejando transformar o presentear em um momento significativo, transformando presentes em doações e, do outro, instituições que carecem de apoio e, principalmente, de recursos para continuar impactando positivamente a sociedade.
No fim das contas, os negócios sociais acabam fazendo uma parte da tarefa que caberia ao poder público, e cumprem um papel importante ao promover mais do que lucro, mas bem-estar e capacidade produtiva para outros negócios, para comunidades e para famílias. O pulo do gato está em reconhecer necessidades, encontrar formas de resolvê-las e garantir que mais pessoas se beneficiem, em uma verdadeira revolução não apenas social e não apenas econômica, mas as duas coisas, unidas em prol de um futuro melhor.